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Doente idosa com insuficiência cardíaca e cuidadora

O papel do cuidador da pessoa com Insuficiência Cardíaca

Ser diagnosticado com Insuficiência Cardíaca (IC) pode ser um choque para o doente e para as pessoas mais próximas do mesmo. A IC afeta significativamente a qualidade de vida de quem convive com a doença e é um desafio para aqueles que prestam cuidados ao doente1 (por norma, familiares ou amigos2). Esta patologia tem um impacto na saúde física e mental dos cuidadores, pois estes realizam estratégias de autogestão ou prestam cuidados pessoais.1

Existem inúmeras formas de ajudar alguém com Insuficiência Cardíaca. Contudo, a primeira etapa deverá ser entender a doença:

As etapas passam por diferentes apoios às atividades do dia a dia:
  • Prestar apoio psicossocial;
  • Melhorar e manter o autocuidado do doente;
  • Assisti-lo noutros cuidados de saúde.3

Eis alguns exemplos dos papéis dos cuidadores de doentes com Insuficiência Cardíaca:3

Categorias de função

Tipos de suporte

Exemplos

Melhorar e manter o autocuidado

Alimentação saudável

Ajudar no planeamento, nas compras e na preparação de refeições saudáveis para o coração; incentivar uma ingestão adequada de nutrientes; monitorar o declínio inesperado do peso corporal.

Atividade física

Incentivar atividades apropriadas ao estadio da doença, tais como, caminhada, exercícios de equilíbrio e fortalecimento.

Parar de fumar e monitorizar o consumo de álcool

Apoiar e encorajar para deixar de fumar e adequar o aconselhamento sobre o álcool ao tipo de Insuficiência Cardíaca; ex.: abstinência no caso de cardiomiopatia alcoólica.

Gestão de medicamentos

Obter na farmácia medicamentos prescritos; preparar organizadores semanais de comprimidos, lembretes, gestão de recargas; saber que medidas tomar, caso uma dose de um medicamento seja esquecida por algum motivo.4
Diário de efeitos secundários5

Manter um diário com as alterações aos medicamentos e possíveis efeitos secundários.

Gestão do dispositivo de assistência ventricular esquerda

Ajudar na manutenção diária do dispositivo de assistência ventricular.

Monitorizar e tratar os sintomas de Insuficiência Cardíaca

Monitorizar diariamente: o peso para controlar a retenção de líquidos; a falta de ar; a fadiga; o inchaço nas pernas ou tornozelos;4 ajustar a dose do diurético de acordo com as instruções do médico; registar a gravidade destes sintomas num gráfico ou num diário;4 auxiliar nas decisões sobre a necessidade de atendimento de emergência/hospital de dia de insuficiência cardíaca.

Apoio psicossocial

Emocional e mental

Fornecer apoio através do toque, da escuta, da atenção, do humor, do pragmatismo e do estoicismo; ajudar no encaminhamento para serviços de saúde mental.

Social e espiritual

Respeito e apoio às necessidades espirituais; empatia.

Lidar com sintomas e efeitos colaterais de medicamentos

Apoio para lidar com fadiga, intolerância ao exercício, falta de ar, ansiedade, depressão e anorexia.

Apoio nas atividades do dia a dia

Cuidados pessoais

Auxiliar no banho, a vestir-se, a ir ao WC, movimentar-se.

Cuidar da casa

Apoio na gestão dos pagamentos do empréstimo/ arrendamento; água, luz, limpeza e outros serviços que sejam pagos.

Apoio logístico

Transporte e planeamento de tarefas e atividades.

Outros cuidados de saúde

Comunicação

Comunicar com os profissionais de saúde sobre o plano de tratamento; ser o porta-voz do doente.

Gestão de benefícios do seguro de saúde e serviços sociais

Pagar sinistros de seguro de saúde; solicitar benefícios por invalidez.

Coordenação de consultas e visitas

Gerir agenda relacionada com consultas de rotina por IC e por comorbilidades; acompanhamento nas consultas.

Transição de cuidados entre a instituição de saúde e o domicílio

Organizar a prestação de cuidados após a alta hospitalar; garantir a continuidade dos cuidados.

Cuidados de fim de vida

Interceder pelo doente; comunicar as preferências do doente; fornecer apoio à decisão para cuidados paliativos.

Em geral, o cuidador ajudará o doente na otimização do estilo de vida, ou seja, irá adotar estas mudanças e incorporá-las na rotina diária do doente e da sua família, se for o caso. No que diz respeito à alimentação e uma vez que o cuidador por norma é a pessoa responsável por preparar as refeições do doente, deverá optar por seguir uma alimentação saudável. Um estudo realizado em 2018 avaliou o efeito da dieta em indivíduos com Insuficiência Cardíaca e verificou que aqueles que tinham deficiência em sete ou mais micronutrientes (vitaminas e minerais) tinham quase o dobro do risco de hospitalização e morte em comparação com aqueles sem estas deficiências de micronutrientes.6

Outra questão essencial relacionada com o estilo de vida do doente é a necessidade de planear as atividades, deixando um período de tempo mais alargado para a sua execução, uma vez que o doente com IC demora mais tempo e cansa-se com mais facilidade. Planeie as atividades do doente tendo isso em consideração.

Braço com relógio símbolo de tempo

Reserve um tempo extra para o que é necessário fazer e alterne períodos de atividade com períodos de descanso. Tente ao máximo não expressar impaciência, quando as coisas vão mais devagar do que gostaria.

É também uma boa ideia monitorizar os sintomas do doente diariamente e registar a gravidade desses sintomas num gráfico ou num diário.5
Pode, por exemplo:

  • Perguntar todos os dias ao doente como é que ele dormiu;
  • Se sentiu falta de ar ao deitar-se;
  • Se acordou durante a noite com este sintoma.

Pode também observar diariamente o quão sem fôlego o doente fica ao falar ou ao movimentar-se.5
Monitorizar estes sinais, irá ajudar o cuidador a identificar padrões ao longo do tempo.

Descarregue aqui o diário de registo de sintomas

Mãos passam coração em sinal de apoio

Procure ajuda médica

Caso o doente apresente um agravamento dos sintomas:
  • Falta de ar;
  • Dor ou desconforto no peito;
  • Tonturas fortes;
  • Desmaio;
Ou qualquer outro sintoma que pareça alarmante, não hesite em ligar para o 112. Fale com o médico, se notar alguma tendência ao longo do tempo que lhe pareça preocupante. Isto pode ser um aumento de peso de 2 ou mais kg em apenas dois ou três dias, um agravamento gradual da falta de ar, as pernas mais inchadas do que o habitual ou apenas um maior cansaço e fadiga.5 O agravamento dos sintomas pode ser um sinal de que a Insuficiência Cardíaca do doente está a piorar e que um episódio agudo poderá estar para breve. Se alertar o médico, este poderá evitar alguma situação mais grave, ajustando temporariamente os medicamentos.

O cuidador também tem de cuidar de si

Ser cuidador pode ser fisicamente e psicologicamente extenuante. Contudo, para ser um cuidador eficaz nunca se pode esquecer de cuidar também de si. Se o cuidador ficar doente, frustrado ou se entrar em exaustão, nenhuma das partes ganha com isso. Ao contrário do que acontece com doentes que têm um acidente vascular cerebral grave ou demência, a maioria dos doentes com IC consegue: Preparar uma refeição simples; Ir buscar o correio; Ir ao WC; Até lavar a sua roupa sozinho.5

Por isso, sempre que não existirem sinais ou sintomas de alarme, pode e deve encaixar algum tempo na sua agenda para cuidar de si e para fazer algo que o faz feliz, para que assim consiga ser um cuidador mais eficaz.

Referências

1 – Jennifer Wingham, et al. Needs of caregivers in heart failure management: A qualitative study. Disponível em: https://bit.ly/3kkoJyt. Consultado em 2/04/2022

2 – Heartfailurematters.org – Informações para familiares e prestadores de cuidados. Disponível em: https://bit.ly/3knoRgE. Consultado em 22/04/2022.

3 – Lisa Kitko, et al. Family Caregiving for Individuals With Heart Failure: A Scientific Statement From the American Heart Association. Disponível em: https://bit.ly/3vHx0St. Consultado em 22/04/2022.

4 – Richard N. Fogoros, MD. How to Be an Effective Caregiver for a Person With Heart Failure. Disponível em: https://bit.ly/3OGdEWs. Consultado em 22/04/2022.

5 – 10 Tips for Caring for Someone with Heart Failure. Disponível em: https://bit.ly/3MtSOrB. Consultado em 22/04/2022.

6 – Lennie TA, et al. Micronutrient deficiency independently predicts time to event in patients with heart failure. J Am Heart Assoc. 2018;7(17):e007251. Disponível em: https://bit.ly/3ThnrVs. Consultado em: 26/08/2022.